15 de julho de 2014

Cartas de uma tarde de outono

Querido Charlie

Estive viajando pelo mundo. Conhecendo lugares que preenchem meus olhos ofuscos. Palavras vieram aos poucos, sendo transformadas em discursos omissos. Entendes o caos? Tudo parece ter ganhado uma nova forma, cor, melodia. Tudo. Exceto o nada. É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar. E nesse meio termo de indas e vindas, malas foram sendo desfeitas. Há pedaços de mim por toda a parte. A última vez que lembrei-me de você, estava em uma altura exuberante. Poderia dizer, que estive com a lua. Lado a lado. A nossa amante. Convém dizer, que do mundo inteiro. Não saberia dizer em que parte do EUA você se encontra. Mas digo que, eu ainda moro nesse chão cruel chamado "planeta terra".
Fico  abismada como o destino se encarrega de zelar pela dor. Procurei deixar todas as cartas, fora do meu alcance. Todas as relíquias. Tudo mesmo. Mas a poucos dias, simplesmente encontrei o baú esquecido, propositalmente, em cima da minha cama. Quase delirei. O incidente foi cometido pela minha mãe. Como culpá-la?  Não há. Mas e o que fazer com o maldito baú?
Ah, todas as palavras são o meu castigo. O pior é ter que conviver comigo mesma, sabendo dos meus deleites. A verdade é que essas palavras, sentimentos, não cabem mais dentro de mim. Lembra da teoria do  infinito? O que é findo é o que irá preencher espaços. Porém, esses espaços vieram aos poucos sendo ocupados por mim. Egoísmo, poderia ser aplicado. Mas e todo o lixo que vieste a deixar? Palavras sujas que pararam no tempo. Que congelaram sorrisos. Que foram lançadas ao nada. Apenas com extinto momentâneo. Sem veracidade. Desconhecidas pelo autor da pronuncia. Sim. São aquelas que foram emitidas, pelo som do seu ser.
Cd's estão espalhados em cima da mesa. A música que toca, não é tocada na rádio em nenhum lugar que conheço, (Champagne Supernova), mas destila o seu veneno perfeitamente. Meus livros estão anexados em seus lugares. Papéis e fotografias espalhados em cima da minha cama. Uma garota jogada ao chão se perguntando: - Qual a razão dessa ilusão? Os segundos seguintes, são interrompidos pelo som da campainha. E tudo isso simplesmente torna-se mais um cristal a ser congelado. Deixado para ser quebrado depois. Ou, quando o verão chegar.

E querido, não julgue com pudor tudo o que lê. Apenas o que sentes. Pois nesse jogo de despedidas, o adeus jamais foi dito, e sim, pré-sentido.

Beijos.
Sua amada, Sophia.