Algumas folhas em branco. Algumas muitas. Noites que são quase dias, quase fins. Foi num desses abalos sísmicos no Atlântico, que borrei seus lábios com meu batom. A gente queria preencher o vazio branco da história de toque, pele e saliva. Algumas marcas são invisíveis aos olhos. Algumas dessas histórias, não são lidas em lugar algum. A fumaça do cigarro, saía pela janela da vizinha ao lado. Sim, da vizinha que mora sozinha e faz festa todas as noites com seus gemidos contidos. A fumaça é um aviso de tortura. Necessitamos esquecer algo. Eu sei que sim. Foi numa dessas tardes, sentada em seu colo, que pensei na vizinha que nunca reclama de nada. Apenas exala a sua fumaça de dor. O que ela estaria esquecendo? A noite anterior? Não. Não consigo assimilar a felicidade incontida com a trago de esquecimento. Mas sei que preciso. Bob Dylan tem nos deixado mensagens incrivéis no calor da madrugada. Tenho ouvido uma música, que destila seu veneno perfeitamente, quando repouso sobre a sua pele que me cobre tentando apagar os vestígios da tensão e caos. Ah, não ouso pensar em mais nada. Apenas quero sentir que o fim se aproxima e eu continuo aqui, com minha ingenuidade doentia. Você havia deixado panquecas pronta e posto flores na mesa e preparado uma bebida. Eu sei que algo paira no ar feito um perfume que exala a sua fórmula afim de me direcionar uma resposta. Eu bem sei. Mas a verdade, é que não procuro por respostas óbvias. Apenas necessito do que temos, enquanto podemos. Pois no fim das contas, a gente nunca fica sozinho. Apenas escolhemos estar. As músicas e a conversa muda, sempre são uma boa companhia. Nos dias mais frios, a bebida quente é a melhor pedida. Mas então, algumas folhas borradas com cigarros também são histórias. A nossa sorte, é sermos nós, a melhor de todas.
Semblantes
26 de abril de 2015
15 de outubro de 2014
A literary orgy
As folhas deixadas pelo vento em minha porta tem o seu endereço postal. E eu ainda não assisti o filme, o qual passamos duas horas conversando sobre o roteiro. Mas veja bem, é inverno e continuo tendo a velha mania de não gostar do verão. Sou o avesso de tudo o que você conhece. Mas o que me conforta é ser mesmo esse avesso.
Meu perfume exala pelo ar feito uma fumaça no farol. Vivo um tormento quase constante todas às vezes em que entro no meu quarto e encontro algo fora do lugar. E confesso o que tem causado esse “tormento” : pessoas que não estão no lugar certo. Sei que nada está. E me pergunto sobre o que os seres estão plantando por aí? Simplesmente existindo? Ou vivendo?
Ah, doce Phil, o senhor da banca de jornal da sua rua, que é primo do padeiro, que mora perto da gruta onde seu pai se esconde e te esconde conhece meus passos e olhares. Ele já viveu muito e possui uma sabedoria incrível. Você deveria comprar jornais ao menos duas vezes na semana e reservar um tempo para uma boa prosa. A princípio, gosto de chá e de poesia. Você vai dizer que eu nunca soube como me cuidar. Que serei a eterna inocente. Mas olho para a parede do meu quarto e vejo que eu nasci na época errada. Pois os anos que mais me fascinaram em vida, já se passaram. E sobraram somente as relíquias para saborearmos.
Acho que naquela época, as pessoas eram mais felizes. E nem precisavam se depilar. Tudo era conectado pelo findo. Você disse certa vez, que o homem costuma estragar tudo. Em parte, mas o desejo da mulher, o poder, a obsessão, o famoso jogo de cintura, também pode estragar. Os dois podem e o tudo também. Passei dias tentando um contato comigo mesma. Mas o tempo parece ser maior do que tudo. Isso, porque já quase escrevo por obrigação. Talvez a faculdade esteja nos consumindo mais do esperávamos, pois há tanta página em branco no caderno azul. E o livro talvez fique pronto quando também estivermos. Nada costuma ser definido, apenas deixamos o acaso agir. Lembrei-me da sua pergunta, sobre em que eu irei pensar quando as luzes se apagarem. Digo, talvez seja em algo tipo: Ih, apagou (rs). Mas nunca sabemos. A certeza que podemos ter apenas, é que na manhã seguinte, teremos café.
D.R
15 de julho de 2014
Cartas de uma tarde de outono
Querido Charlie
Estive viajando pelo mundo. Conhecendo lugares que preenchem meus olhos ofuscos. Palavras vieram aos poucos, sendo transformadas em discursos omissos. Entendes o caos? Tudo parece ter ganhado uma nova forma, cor, melodia. Tudo. Exceto o nada. É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar. E nesse meio termo de indas e vindas, malas foram sendo desfeitas. Há pedaços de mim por toda a parte. A última vez que lembrei-me de você, estava em uma altura exuberante. Poderia dizer, que estive com a lua. Lado a lado. A nossa amante. Convém dizer, que do mundo inteiro. Não saberia dizer em que parte do EUA você se encontra. Mas digo que, eu ainda moro nesse chão cruel chamado "planeta terra".
Fico abismada como o destino se encarrega de zelar pela dor. Procurei deixar todas as cartas, fora do meu alcance. Todas as relíquias. Tudo mesmo. Mas a poucos dias, simplesmente encontrei o baú esquecido, propositalmente, em cima da minha cama. Quase delirei. O incidente foi cometido pela minha mãe. Como culpá-la? Não há. Mas e o que fazer com o maldito baú?
Ah, todas as palavras são o meu castigo. O pior é ter que conviver comigo mesma, sabendo dos meus deleites. A verdade é que essas palavras, sentimentos, não cabem mais dentro de mim. Lembra da teoria do infinito? O que é findo é o que irá preencher espaços. Porém, esses espaços vieram aos poucos sendo ocupados por mim. Egoísmo, poderia ser aplicado. Mas e todo o lixo que vieste a deixar? Palavras sujas que pararam no tempo. Que congelaram sorrisos. Que foram lançadas ao nada. Apenas com extinto momentâneo. Sem veracidade. Desconhecidas pelo autor da pronuncia. Sim. São aquelas que foram emitidas, pelo som do seu ser.
Cd's estão espalhados em cima da mesa. A música que toca, não é tocada na rádio em nenhum lugar que conheço, (Champagne Supernova), mas destila o seu veneno perfeitamente. Meus livros estão anexados em seus lugares. Papéis e fotografias espalhados em cima da minha cama. Uma garota jogada ao chão se perguntando: - Qual a razão dessa ilusão? Os segundos seguintes, são interrompidos pelo som da campainha. E tudo isso simplesmente torna-se mais um cristal a ser congelado. Deixado para ser quebrado depois. Ou, quando o verão chegar.
E querido, não julgue com pudor tudo o que lê. Apenas o que sentes. Pois nesse jogo de despedidas, o adeus jamais foi dito, e sim, pré-sentido.
Beijos.
Sua amada, Sophia.
4 de junho de 2014
Ausência em mim
" Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim."
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim."
Carlos Drummond de Andrade
25 de abril de 2014
24 de abril de 2014
Corte transversal do poema.
A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços. Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça, fica com o braço de fora. Alguém anda a construir uma escada para os meus sonhos. Um anjo cinzento, batendo as azas em torno da lâmpada. Meu pensamento desloca uma perna, o ouvido esquerdo do céu não houve a queixa dos namorados. Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia, um olho andando com duas pernas. O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem. A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios. Só tenho o outro lado da energia que me dissolvem no tempo em que virá. Não me lembro mais quem sou.
Daiane Reis
Daiane Reis
10 de março de 2014
Fração de segundos!
Às vezes temos pensamentos que nem mesmo agente entende. Pensamentos que nem são tão verdadeiros - que não são realmente como nos sentimos -, mas que ficam rondando nossa cabeça porque são interessantes de se pensar.
- Os 13 porquês
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