26 de abril de 2015

Júlia, papéis e estragos

Algumas folhas em branco. Algumas muitas. Noites que são quase dias, quase fins. Foi num desses abalos sísmicos no Atlântico, que borrei seus lábios com meu batom. A gente queria preencher o vazio branco da história de toque, pele e saliva. Algumas marcas são invisíveis aos olhos. Algumas dessas histórias, não são lidas em lugar algum. A fumaça do cigarro, saía pela janela da vizinha ao lado. Sim, da vizinha que mora sozinha e faz festa todas as noites com seus gemidos contidos. A fumaça é um aviso de tortura. Necessitamos esquecer algo. Eu sei que sim. Foi numa dessas tardes, sentada em seu colo, que pensei na vizinha que nunca reclama de nada. Apenas exala a sua fumaça de dor. O que ela estaria esquecendo? A noite anterior? Não. Não consigo assimilar a felicidade incontida com a trago de esquecimento. Mas sei que preciso. Bob Dylan tem nos deixado mensagens incrivéis no calor da madrugada. Tenho ouvido uma música, que destila seu veneno perfeitamente, quando repouso sobre a sua pele que me cobre tentando apagar os vestígios da tensão e caos. Ah, não ouso pensar em mais nada. Apenas quero sentir que o fim se aproxima e eu continuo aqui, com minha ingenuidade doentia. Você havia deixado panquecas pronta e posto flores na mesa e preparado uma bebida. Eu sei que algo paira no ar feito um perfume que exala a sua fórmula afim de me direcionar uma resposta. Eu bem sei. Mas a verdade, é que não procuro por respostas óbvias. Apenas necessito do que temos, enquanto podemos. Pois no fim das contas, a gente nunca fica sozinho. Apenas escolhemos estar. As músicas e a conversa muda, sempre são uma boa companhia. Nos dias mais frios, a bebida quente é a melhor pedida. Mas então, algumas folhas borradas com cigarros também são histórias. A nossa sorte, é sermos nós, a melhor de todas.


Daiane Reis